domingo, 14 de dezembro de 2008

Tenho que andar...


Na corrida que é a vida, sempre me orgulhei de ter corrido, sem parar. Corro atrás dos meus objetivos, do que eu quero. Alguns amigos meus dizem que tenho vocação para andarilho. Acho que herdei essa necessidade de você. Você dizia várias vezes “tenho que andar”, mesmo sem ter algo necessariamente importante para resolver. Pois bem, no dia 01 de dezembro de 2008, eu parei. Não conseguia mais correr. Nunca havia passado por isso. De uma vez só, me encontrava só. Começava a compreender o que era dor. Acreditava que sofrer por alguém só poderia causar dor no sentido metafórico, mas não. Assim como toda metáfora, essa tinha um correspondente em sua literalidade. Havia uma dor no meu peito, uma vontade de gritar, mas gritar o quê? O nó em minha garganta não permitiria a pronúncia de qualquer palavra. O dia era de sol no Rio de Janeiro. Dia maravilhoso assim como a cidade que aprendi a amar contigo. Lembro-me que andei bastante com você. Durante um período em minha vida, saía com você pelas tardes para aprender. Aprendi um pouco sobre política quando se envolveu com ela. Conheci pessoas e caminhos que antes não havia percorrido. Até hoje, faço questão de saber o nome das ruas que percorro. Quando mais novo, pedia sempre para ficar em seu cangote. Desse modo, apesar da pequena estatura, podia enxergar o mundo de cima. Fora através de seus olhos que aprendi a enxergá-lo. Aprendi muito com você. Nunca chegou a lecionar para mim em sala de aula, mas seus amigos me diziam de sua facilidade com os números e fórmulas da Física. Acho que aprendi mais com você durante as aulas de vida que me proporcionava quando compartilhava algum momento com você. Ultimamente, estávamos próximos apesar de minhas constantes viagens. Você estava doente. Lembro-me das várias vezes em que chegava em casa e você, deitado, olhava para ver se tinha chegado bem. Sabe que eu te amo, né? Palavras que poderiam para o leitor cético serem vazias de significado, na verdade, possuíram significado tamanho e verdadeiro que o silêncio poderia representar melhor o que sentia e ainda sinto. Acho que é por isso que pedem um minuto de silêncio. Silêncio que se ausentou numa noite em que você, no hospital, lutando contra a sua mente, ouviu de mim que o amava e você respondeu reciprocamente em lágrimas. Agora, você é só saudade. Não conheci homem bom como você. Todos falavam e ainda falam de seu sorriso. Não reclamava. Levava a vida com alegria. E a vida o levou. Sentirei saudades eternamente. Tenho que andar...