terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Lutem até o Fim


Já devia ter escrito sobre isso. Pensei, pensei, queria contar sobre isso. 26 anos. Vidas foram levadas, vidas chegaram. Vidas foram transformadas naquele 05 de dezembro de 2010. Alguns dizem que time não se escolhe, outros discordam. Torcer para o Fluminense é mais do que isso. É sentir. Sentimento que pude verdadeiramente cultivar desde que voltei ao Rio em 2006. Desde minha primeira ida ao Maracanã num sofrível 0x0. A devoção começou ali. Desde então posso dizer, o que sinto pelo Fluminense é algo único. Ser tricolor é sentir o amargo da derrota, mas mesmo assim beijar o seu escudo e saber que o Fluminense é enorme, muito maior do que qualquer frustração. É ter a certeza de que existe algo reservado, algo bom. Quem espera sempre alcança. Prefiro começar falando sobre a Libertadores em 2008. Depois de jogos épicos, perdemos o título. Chorei de alegria, de joelhos no jogo contra o São Paulo, chorei de tristeza na final. Mal sabia, que estava sendo forjado ali um time e torcida de guerreiros. Quando digo guerreiros, não digo como metáfora, é o mais puro sentido literal da palavra. Veio 2009, um ano que parecia fadado ao desastre. Fluminense x Atlético-MG, quinta-feira de chuva, cerca de 4 mil pessoas no Maracanã. Confesso, não estava lá. Eram 98% de chances de ser manchada a história gloriosa do Fluminense ao disputar a Série B novamente. “Lutem até o fim”. Dizia a faixa. Lutaram, e como lutaram. Nos jogos seguintes, no Maracanã, sempre lotado, era impossível vencer o Fluminense. Digo, impossível. Podia ser contra quem for, que nós não perdíamos. Jogávamos a Sul-Americana também. Perdemos. Perdemos feio, mais uma vez em Quito para a mesma LDU do ano anterior. No jogo de volta, acho que de todos os gestos dessa torcida, o que mais me emocionou foi o corredor escoltando o time até o Maracanã. Dentro do estádio, o mosaico dizia “Eles tem a altitude, vocês tem a gente.” E tiveram. Juntos fizemos o impossível. A matemática não se aplica à paixão. Naquele dezembro de 2009 escapamos, permanecemos na elite. Nesse ano, mais um carioca medíocre. Eliminados na Copa do Brasil com o recém contratado Muricy Ramalho. Mais duas derrotas no início do Brasileiro. Veio o Fla-Flu. Foi meu primeiro jogo no Brasileiro. Dominamos. Vencemos. Vencer. Verbo que virou hábito. Até que finalmente alcançamos a liderança num jogo contra o grande time do Cruzeiro. No dia seguinte, vi o sonho ruir por algumas horas ao anunciarem Muricy Ramalho como técnico da Seleção. Guerreiros, assim como em Roma, tinham como principais valores: Força e Honra. Muricy ficou. Perdemos o Maracanã. Tive que me acostumar com o Engenhão. Demorei a ver a primeira vitória no estádio. Mas me marcou também uma derrota. Quando me vi cantando e aplaudindo o time após perder por 3x0 para o Santos. Gritávamos “seremos campeões”, algo que evitava geralmente, mas depois dali profetizávamos. Assim como disse o Nelson, “O Fluminense começou a ser campeão muito antes. Sim...Quando saiu do caos para a liderança. Do caos para a liderança, repito.” Dali em diante, vi a construção de um sonho. Time e torcida eram cúmplices. Foi dramático. Nos últimos jogos, ao final dos jogos meus olhos já se encontravam marejados. Reação que era a mesma para alguns dos vários desconhecidos com quem acompanhei os jogos nos estádios. Chegou o dia, 1x0. Olho para o lado, o mesmo olhar em êxtase e não acreditando no que aconteceu, era o meu. Era real. Campeão. Fiquei atônito. Dessa história nunca vou me esquecer. Essa história é eterna. Assim como a verdadeira paixão, o verdadeiro amor. Essa torcida sabe bem o que é isso. Ser tricolor é isso. E esse sentimento domina qualquer ser que veste verde, branco e grená. Terminando com a profecia realizada pelo Nelson: “Foi a nossa viagem maravilhosa. Lembro-me do primeiro domingo em que ficamos sozinhos na ponta. As esquinas e os botecos faziam a piada cruel: “líder por uma semana….”
Daí pra frente, o Fluminense era sempre o líder por uma semana…”
E os guerreiros lutaram, lutaram até o fim.